Ibaneis quer servidores concursados em 70% dos cargos comissionados

O governador recém-eleito do Distrito FederalIbaneis Rocha (MDB), assegurou, em entrevista exclusiva concedida ao Metrópoles, a primeira após a definição do segundo turno, que vai dar protagonismo aos servidores: quer 70% dos cargos públicos ocupados por funcionários efetivos até o fim do mandato. O emedebista garantiu a nomeação dos aprovados em concursos, além de mais seleções nas áreas de educação, saúde, segurança pública e transporte.

“Quero diminuir ao longo do tempo essa dependência dos cargos comissionados”, pontuou, no bate-papo com a diretora-executiva do Grupo Metrópoles, Lilian Tahan, e o colunista Hélio Doyle, transmitido ao vivo pelo Facebook do portal horas após o resultado do pleito no domingo (28/10). O GDF tem, atualmente, em torno de 13 mil ocupações dessa natureza.

Ao longo da conversa, o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Distrito Federal (OAB-DF) interagiu com pessoas que assistiam à live e faziam perguntas. Ibaneis explanou seus planos acerca de diversos temas.

O emedebista venceu a disputa pelo Governo do Distrito Federal com 69,79% dos votos válidos: 1.042.574 eleitores escolheram o candidato do MDB. Rollemberg, com 451.329 votos, somou 30,21%.

Confira os principais trechos da entrevista:

Primeiro dia como governador eleito
Vou conceder entrevistas e tenho uma reunião com o presidente Michel Temer. Vamos falar a respeito do orçamento, quero trazer dinheiro para o Distrito Federal. Também pedi que o presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle, nos receba. Nós precisamos falar sobre o orçamento para o Distrito Federal. E tenho um encontro com o deputado Vitor Paulo, relator do orçamento federal no Congresso.

Transição
Quero começar já a montar a transição. Já conversei com Rodrigo Rollemberg e ele se colocou à disposição para uma transição sadia. Acredito nisso. Ele é democrata, é uma pessoa que quer uma Brasília melhor. Vou esquecer tudo que aconteceu na campanha.

Estrutura do novo governo
Ainda não tenho secretários nomeados. Apenas o André Clemente, que será secretário da Fazenda. Os outros devem surgir ao longo da transição. Quero descobrir os meus secretários, nomeando os melhores.

André Clemente
Ele é experiente, ligado à área da auditoria fiscal do Distrito Federal. Um funcionário que tem história nesta cidade e vai nos ajudar a trazer os recursos que nós precisamos para cumprir todos os compromissos que assumimos ao longo da campanha. Ele me ajudou com o plano de governo.

Plano de governo
Nosso plano de governo nasceu com a equipe do Frejat. Algumas das propostas vou ter de adaptar em virtude dos partidos que vieram nos apoiar no segundo turno. Quero trazer essa concepção de união em prol do DF. Chega de ‘azul e vermelho’, isso fez muito mal para a nossa cidade. Nós temos de fazer uma política diferenciada, que honre a cidade, que tem inúmeras capacidades, trazendo as melhores ideias. Este é um momento de unir o Distrito Federal.

Conversa com Rollemberg
Ele é uma pessoa que prezo muito, que gosto muito. Gosto dele, da sua família. Acho que os embates eleitorais ficam no passado. Tenho certeza de que, daqui para frente, ele vai nos ajudar a fazer o melhor para Brasília.

Secretarias
Prefiro 50 secretarias com quadros reduzidos a ter 15 com muita gente e sem ninguém saber quem é que manda. Quero pessoas para as quais eu possa ligar e que apresentem resultados. Vou reduzir o quadro, principalmente de comissionados. Quero fazer uma gestão na qual eu saiba quem estou cobrando, e quero resultados. Delegar e cobrar é o que mais aprendi na minha vida.

Secretário de Saúde
Tenho algumas opções, mas quero, neste período de transição, ouvir todos. Quero um secretário de Saúde que converse com todos os servidores, todos os profissionais da saúde. Logo abaixo, no segundo escalão, quero pessoas que sejam gestores, que saibam fazer compras, manter os hospitais funcionando. Quero descentralizar e deixar as regionais de saúde bem atendidas, com autonomia. O secretário de Saúde não precisa ser a melhor pessoa do mundo, mas tem de ter interlocução com todos os profissionais. E tem que ter gestão. Um pouco mais abaixo, nós vamos ter quem vai fazer a compra dos remédios, quem vai gerir os hospitais, quem vai cuidar da limpeza, quem vai cuidar da reforma. Vamos ter em torno de cinco gestores em cada uma das áreas para que funcionem de forma produtiva. E isso vai ser feito de forma imediata. Saúde não espera. Quero deixar isso bem claro: o primeiro ato nosso será para cuidar da Saúde. A pessoa que vai para a fila do hospital precisa ser atendida. Vou fazer, em um primeiro momento, parceria com a iniciativa privada. Quero zerar a fila de cirurgias. Quero zerar toda a demanda que existe hoje. A partir daí, nós vamos fazer uma coisa bem organizada, onde todos vão ter atendimento, vão ter um sistema de saúde de qualidade.

Hospital de Base
Quero conhecer o que é o Instituto Hospital de Base. O que sei, tomei conhecimento por meio de denúncias do Ministério do Público do Trabalho. Se o Instituto Hospital de Base for esse que não tem seleção pública para contratar pessoas, sem licitação para fazer compras, ele acaba. Se ele estiver dentro da legalidade, ele continua.

Aplicativos de transportes
Todo mundo tem de ter liberdade. Mas, na maioria dos lugares, o aplicativo é o segundo emprego, complementação de renda. No DF, por conta do desemprego, virou a única opção. Temos muitos motoristas cadastrados e, ao mesmo tempo, os taxistas estão passando necessidades. Nós vamos chamar todos, vamos regulamentar para que todos tenham o direito de ganhar seu direito, mas sem gerar o empobrecimento geral.

Centro Administrativo
É um abacaxi que precisa ser descascado. Vou sentar e conversar com todos os envolvidos: Caixa Econômica, construtoras, Ministério Público e Justiça. Se houver possibilidade de resolver, e eu espero que tenha, nós vamos abrir aquilo ali. A população de Ceilândia e de Taguatinga aguardam aquela obra. Mas não acredito que seja uma solução concentrar tudo lá. Quero montar administrações regionais muito bem consolidadas para que as pessoas possam resolver seus problemas perto de casa.

Escolha dos administradores regionais
Não se pode ter administradores escolhidos apenas pelo dedo do governador. Eles precisam ter vínculo com a população. A participação dos moradores na indicação é importantíssima. Vou ouvir a população, será definida uma lista tríplice e desses três nomes vou indicar um. E os moradores vão avaliar os administradores. Vou dar todas as condições para eles trabalharem, mas se forem mal avaliados, serão retirados, e a população indicará outro nome.

Relação com deputados
Nenhum deputado me pediu cargo. Acho que estão assustados com o Ibaneis. Ninguém chegou aqui para pedir nada. Estou tranquilo. Terei uma relação democrática com a CLDF, vou ouvir os deputados distritais. Aliás, estou em uma situação muito tranquila. Só não vou fazer um bom governo se eu não quiser. Se der errado, a culpa será minha.

Nomeação de concursados
Vou trabalhar ao máximo para nomear concursados. Quero diminuir ao máximo os comissionados e chegar ao final da minha gestão com, pelo menos, 70% de profissionais concursados. Então, todos que fizeram concurso público, nós vamos chamar. O problema da Lei de Responsabilidade Fiscal é a arrecadação. Todo mundo fala que 80% do orçamento do DF é gasto com servidores. O problema aí é que o DF está arrecadando pouco. Tem pouco emprego, pouca renda e pouco imposto. Quero abrir concursos para várias áreas: educação, saúde, segurança pública e transporte. Vou diminuir, ao longo do tempo, essa dependência dos cargos comissionados.

Polícia Civil
Vou tratar com muito respeito todas as forças de segurança. Uma das pautas que tenho com o presidente Temer é essa. O DF não é só a capital da República, que abriga todos os Poderes. Brasília tem de ser exemplo de segurança pública. E vou levar uma proposta para aumentar o Fundo Constitucional para que a gente possa realmente cumprir todos os nossos compromissos. Já vinha tratando esse assunto com ele. E espero, no primeiro mês de governo, ter tratado de todos os reajustes, tanto da Polícia Civil quanto da Polícia Militar.

Fundo Constitucional
É possível aumentar o Fundo Constitucional no Congresso, por meio do encaminhamento do presidente da República. Sei que tenho o apoio de parlamentares. E o presidente eleito, Jair Bolsonaro, vai trabalhar muito essa questão de segurança. Ele não vai querer que a capital da República tenha essa segurança pública que temos hoje.

Diálogo
Há muita falta de diálogo. Vou ser um governador que vai acolher todos os demais governadores. Vou trabalhar em conjunto com todos os senadores, todos os deputados federais. Serei o anfitrião de todos. E eles vão saber a importância de a gente ter mais Brasil e mais Brasília.

Creches
Vamos, primeiramente, fazer parcerias com o terceiro setor. Hoje, nós temos muitas crianças que são atendidas dentro das igrejas, e vou ampliar esse trabalho. Em um segundo momento, vamos construir novas creches. Mas, com as parcerias, vamos acolher, já no primeiro ano, 10 mil crianças.

Quem vai ser o diretor da Polícia Civil
Tenho o compromisso de escolher um nome da lista tríplice. Pedi ao Sinpol [Sindicato dos Policiais Civis] e ao Sindepo [Sindicato dos Delegados] que cheguem a um consenso e indiquem profissionais que eles concordem.

Falta de ônibus no DF
É um problema sério. A licitação atual foi questionada na Justiça e é preciso resolver esta questão. É preciso colocar mais 4 mil ônibus em circulação, mas os empresários precisam de estabilidade e segurança jurídica. Vou me reunir com o Ministério Público e o Judiciário a fim de discutir a forma de dar segurança para o empresariado adquirir os veículos. Quero um sistema de transporte que estimule o brasiliense a deixar os carros em casa e usar mais ônibus e metrô.

Fim da Agefis
A Agefis virou um ‘instrumento do mal’. Quero uma fiscalização preventiva, que não ataque o cidadão. Vou mudar o nome da agência e quero colocar fiscais nas administrações, sem perseguir as pessoas. A ação precisa ser preventiva: não pode deixar construir. Há um ditado no Nordeste que diz o seguinte: ‘Depois da queda, vem o coice’. O desemprego e a crise econômica são muito sérios. Nesse cenário, por que colocar a Agefis para perseguir quem vende bolacha na rodoviária?

Governabilidade na Câmara Legislativa
Vamos ter um relacionamento digno e honrado com a Câmara Legislativa. Os projetos não serão enviados de surpresa, da noite para o dia. Vamos conversar com todos e ter um trabalho transparente. A renovação na CLDF foi enorme, e quem chega com mais de 1 milhão de votos, como eu, tem força para dialogar.

Eleição para a presidência da CLDF
Não pretendo interferir na eleição para a presidência da Câmara Legislativa. Imagino que serei consultado, mas prefiro que os próprios deputados resolvam entre eles. Independência e harmonia [entre os Poderes], como está na Constituição, cabe em todo lugar.

Processo eleitoral na OAB-DF
Também não pretendo interferir na eleição para presidente da OAB-DF. Tenho um candidato, o Jacques Veloso, mas não quero interferir. Não vou pedir votos nem sair às ruas. Levei a democratização para a ordem, e todos sabem como foi minha gestão. Quero que os advogados estejam livres para escolher, mas tenho meu candidato.

Ampliação do metrô
Já existem recursos federais disponíveis e vamos buscar todos para ampliar todas as linhas possíveis. Mas o DF tem questões geográficas que impedem a expansão, como em Sobradinho e Planaltina, onde seria necessário um investimento muito alto. Lá, tem de ser BRT. Em outras localidades, é possível ampliar as linhas, como em Ceilândia, e chegar ao Riacho Fundo e ao Recanto das Emas. Vou investir em VLP e VLT, bem como em bolsões de estacionamento, para a população deixar os carros e usar o transporte público. Dá para melhorar muito a mobilidade do DF.

Calendário de pagamento de reajustes
Quero o mais rapidamente possível. Na transição, será possível ver realmente os débitos do DF. O Rollemberg colocou o reajuste [dos servidores públicos] no orçamento, então há previsão de pagar. Quero levantar o valor das pecúnias, fazer um cronograma razoável, com toda a responsabilidade. Mas é hora de quebrar os retrovisores e olhar para o futuro.

Nova administração: Sol Nascente
Vou criar a Administração de Sol Nascente. São 120 mil pessoas que precisam de um carinho enorme. Não dá para ficar dependendo de Ceilândia em tudo que for necessário. Quero uma administração forte em Ceilândia, mas também uma no Sol Nascente, com um responsável que represente e seja abraçado pela comunidade.

Reeleição em 2022
Sou contra a reeleição. Acho um instituto que polui o governo. Não que queira mais um ano de mandato, mas quero que os mandatos tenham cinco anos, sem reeleição. Vou trabalhar por isso no Congresso. Para você ter uma ideia, o Fernando Henrique Cardoso criou a reeleição e de lá para cá o PSDB não ganhou mais nenhuma eleição nacional. É um instrumento podre, acabado, e aqui no Distrito Federal deu extremamente errado. Só irei à reeleição se for uma necessidade para continuar corrigindo os defeitos da cidade e se eu tiver a aprovação da população. Mas vou fazer força, e vocês vão ver isso, para acabar com a reeleição.

Contratados para o Instituto Hospital de Base
Aqueles que foram contratados de forma transparente e tenham passado por processo de seleção vão continuar. Aqueles que foram chamados pelo WhatsApp, como vi em denúncias, e com essa decisão da Justiça do Trabalho de que não houve transparência, não podem ter esperança de que serão contratados. Vou respeitar a legislação e as decisões judiciais. Vai ser passado um pente-fino para que tudo seja feito com transparência. Vocês que foram contratados: farei de tudo para manter vocês trabalhando, mas vou cumprir a lei.

Onde será o escritório da transição?
Pode ser no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, que é uma área maravilhosa, ou no CICB [Centro Internacional de Convenções de Brasília], que também tem uma área que acomoda muito bem. Nesta segunda [29], vou tratar desse assunto. Mas quero conversar com o governador Rollemberg para saber o que é mais fácil para ele.

Residência Oficial de Águas Claras
Estou procurando uma chácara no Lago Sul para morar. A Residência Oficial de Águas Claras vai virar um centro de referência de tratamento de pessoas com deficiência e, de acordo com o tamanho da área, um hospital geriátrico.

Mané Garrincha
Não só para o Mané Garrincha mas é preciso uma PPP [parceira público-privada] para o Autódromo, o Ginásio Nilson Nelson e o Complexo Aquático Cláudio Coutinho. Temos de cuidar dali, transformar a área em um grande centro de eventos para atrair turistas do Norte e do Nordeste. Temos que movimentar os hotéis, bares e restaurantes de quinta a domingo, e não só de segunda a quarta em função dos políticos. Queremos uma agenda bastante positiva, com grandes eventos. Antes, tínhamos Stock Car, campeonato de motovelocidade. Temos que voltar com tudo isso e promover um bom turismo a fim de gerar emprego e renda. Brasília é um paraíso a céu aberto que o Brasil precisa conhecer.

Teatro Nacional
Já existe uma PPP pronta para aquela área do Teatro Nacional, e acho que merece ser feita de forma urgente, como no caso do viaduto. Acho que o governador, infelizmente, vai entregar o viaduto sem conseguir concluí-lo. Se não conseguir concluir, vou implodir e fazer um novo. Acho que Brasília merece um viaduto novo, com área de restaurantes ali embaixo. Nós temos que cuidar das coisas de uma forma bem rápida. No caso do teatro, não dá para ficar com uma obra daquela, um monumento a céu aberto, com dinheiro disponível do Ministério da Cultura, do Ministério do Turismo… Tem dinheiro para se buscar. Falta uma interlocução muito grande entre a Câmara dos Deputados, o Senado, o Executivo federal e o poder público do DF. Vamos fazer tudo de forma muito rápida.

Conversa com Temer
Falamos sobre assuntos que interessam ao Distrito Federal. Ele é o presidente da República, tem a caneta na mão e pode nos ajudar em muita coisa: na criação da zona de livre comércio do Distrito Federal, na questão do Fundo Constitucional e na resolução de vários problemas que nós temos aqui, e vou tratar disso. Por exemplo, aqui no DF, a nossa Junta Comercial é federal, e isso gera muitos problemas. Então, tem muita coisa que pode ser resolvida a partir da interlocução, e quero ter interlocução com o presidente que está aí, Michel Temer, e com Bolsonaro.

Fonte: metropoles.com